Os números de adultos obesos no Brasil aumentam a cada ano e, consequentemente, o número de pessoas em busca de uma solução para a perda de peso também cresce.
As alternativas disponíveis vão desde a reeducação alimentar e exercícios físicos até às intervenções médicas mais radicais como a cirurgia bariátrica.
Porém, antes de se partir para a mesa de operação é importante estar muito bem informado sobre o procedimento, suas variantes, indicações, contra-indicações e restrições durante o período de recuperação.
Tudo o que você precisa saber antes de pensar na cirurgia bariátrica
“A cirurgia bariátrica possui diferentes tipos de procedimentos operatórios, no entanto basicamente com o mesmo objetivo, a redução do estomago e, consequentemente, a diminuição de sua capacidade de ingestão e armazenamento de alimentos que levam o indivíduo a emagrecer de forma rápida e em grande volume”, explica o Dr. Ricardo Staffa, especialista e Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, e gastroenterologista da Clínica GastroInclusive.
Tipos de cirurgias bariátricas mais conhecidas
Restritivas: diminuem o tamanho da capacidade do estômago, pela retirada de parte do órgão ou por colocação de próteses como a banda gástrica ajustável, o balão intragástrico e a gastroplastia vertical (também chamada de “sleeve gástrico”).
Mistas: O cirurgião se utiliza de mais de um tipo de procedimento de redução do tamanho do estômago e de desvio do trânsito intestinal, ocasionando a redução da ingestão e a diminuição da absorção dos alimentos.
Riscos da cirurgia bariátrica
A cirurgia bariátrica oferece riscos como qualquer outro procedimento operatório. “O índice de complicações severas, que podem requerer alguma intervenção, como tratamento clínico ou mesmo reoperações, é em torno de 1 a 2%. Essas complicações estão mais associadas à presença de doenças associadas, como diabetes, hipertensão, apneia do sono, entre outras, que devem ser equilibradas antes do procedimento”, explica Dr. Ricardo Staffa.
É importante lembrar que a cirurgia bariátrica não é a cura definitiva para obesidade do paciente e usada de forma isolada. A obesidade é uma doença crônica, com origem em diversos fatores, os quais precisam ser manejados em conjunto, por toda a vida. Por isso, é importante uma investigação profunda do indivíduo antes do procedimento, ponderando as mudanças associadas à cirurgia e a capacidade do paciente de aderir a elas no pós-cirúrgico.
Isso significa que o tratamento não termina na mesa cirúrgica. O procedimento é apenas parte do tratamento. O que vai resultar na manutenção da perda de peso é o comprometimento do paciente, que deve seguir com a adoção de hábitos saudáveis, alimentação balanceada, prática de atividade física e seguir com acompanhamento com psicólogo, para entender seu novo corpo e se adaptar a ele, e com endocrinologista e nutricionista, para seguir com a dieta e suplementação necessárias.
Pós-Operatório
O Dr. Amélio F. de Godoy Mattos, Chefe do Serviço de Nutrologia e Metabologia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica que os cuidados pós-operatórios variam de caso a caso, mas há uma regra geral: “avaliação clínico-laboratorial com exames de sangue, radiografia de tórax, ultra-sonografia e ou tomografia do abdômen, avaliação cardiológica, endoscopia digestiva e pesquisa de H. Pylori e avaliação de função respiratória que será quão mais aprofundada quanto mais obeso ou complicado seja o caso. Caso o paciente tenha alguma doença que necessite tratamento e controle prévio a cirurgia será adiada até que se obtenha a melhor condição clínica”.
O maior problema destas cirurgias a longo prazo é a desnutrição. “Um déficit de vitamina B12, embora não haja déficit de outras vitaminas ou de algum macronutriente. Casos de desnutrição são comuns. Em pacientes com desnutrição grave é necessária a internação. É obrigatório a suplementação com vitaminas e, frequentemente, temos que repor mais a B12. O ferro também é necessário com frequência”, conta Dr. Amélio F. de Godoy Mattos.
Por isso, além de todas esses detalhes, antes de buscar uma cirurgia bariátrica é importante saber que sua recomendação é para pacientes com índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 40, ou igual ou maior que 35, caso ele tenha comorbidades associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão, dislipidemias. A cirurgia também é indicada em pacientes com idade entre 18 e 65 anos e história de tratamentos clínicos, por pelo menos 1 ano, sem sucesso.
Em todos os casos existem duas perguntas a serem respondidas:
1) o paciente está dentro dos critérios de indicação?
2) há algum critério de contra-indicação, tais como doenças graves como cirrose hepática, doenças renais, psiquiátricas, vícios (droga, alcoolismo), disfunções hormonais, etc?
“Em todos os casos o paciente deverá, obrigatoriamente, ter pleno conhecimento das características, necessidades, riscos e limitações de cada cirurgia. Ele deverá participar de reuniões com a equipe multiprofissional e com pacientes já operados para poder ter certeza da sua decisão”, alerta Dr. Mattos.
Por Antonio Montano